O
culto feito a Kavungo, que
se desdobra com o nome de Obaluàyé / Omolu. Orixá originário do Daomé, Obaluàyé ("Rei Dono da
Terra") ou Omolu ("Filho do Senhor") É um Orixá sombrio, tido entre os
iorubanos como severo e terrível, caso não seja devidamente cultuado, porém Pai
bondoso e fraternal para aqueles que se tornam merecedores, através de gestos
humildes, honestos e leais.
Obaluàyé, o Rei da Terra, é filho de Nanã, mas foi criado por
Iemonjá que o acolheu quando a mãe rejeitou-o por ser manco feio e coberto de
feridas. É uma divindade da terra dura, seca e quente. É às vezes chamado "o velho", com todo o prestígio e poder que a
idade representa no Candomblé. Está ligado ao Sol, propicia colheitas e
ambivalentemente detém a doença e a cura. Com seu Xaxará (feixe de ramos de palmeira
enfeitado com búzios), ele
expulsa a peste e o mal. Mas a doença pode ser também a marca dos eleitos,
pelos quais Omolu quer ser servido. Quem teve varíola é frequentemente
consagrado a Omolu, que é chamado "médico
dos pobres".
Suas
relações com os Orixás são marcadas pelas brigas com Xangô e Ogum e pelo
abandono que os Orixás femininos legaram-lhe. Rejeitado primeiramente pela mãe,
segue sendo abandonado por Oxum, por quem se apaixonou que, juntamente com
Iansã, troca-o por Xangô. Finalmente Obá, com quem se casou, foi roubada por
Xangô.
Omolu é considerado o Orixá da morte, aquele que leva os espíritos
dos enfermos. É responsável pela transição do espírito, do plano material para
o plano espiritual. Assim como é responsável pela vinda da morte, também é
responsável pela ida, sendo assim atribuída a ele várias curas.
Obaluàyé é considerado um Orixá de amor, responsável pela
recuperação dos espíritos que, no plano material, cometeram muitos erros, os
espíritos decaídos, cuidando da transição desses espíritos para o plano
espiritual. Ele também é capaz de tirar as enfermidades dos doentes. Também
prepara para o renascimento, cuidado o útero da mulher para receber a nova vida.
Ambos os nomes surgem quando nos referimos a esta figura, seja Obaluàyé seja Omolu. Para a maior
parte dos devotos do Candomblé e da Umbanda, os nomes são praticamente
intercambiáveis, referentes a um mesmo arquétipo e, correspondentemente, uma
mesma divindade. Já para alguns babalorixás,
porém, há de se manter certa distância entre os dois termos, uma vez que
representam tipos diferentes do mesmo Orixá.
São também comuns as variações gráficas Obaluaê e Abaluaê.
Tem o rosto e o corpo cobertos de palha da costa, em algumas
lendas para esconder as marcas da varíola, em outras já curado não poderia ser
olhado de frente por ser o próprio brilho
do sol.
Em termos mais estritos, Obaluàyé é a forma jovem do Orixá Xapanã, enquanto Omolu é sua
forma velha. Como, porém, Xapanã é um nome proibido tanto no Candomblé
como na Umbanda, não devendo ser mencionado, pois pode atrair a doença
inesperadamente.
Em algumas narrativas mais tradicionalistas tentam apontar-se que
o conceito original da divindade se referia ao deus da varíola, tal visão,
porém, é uma evidente limitação. A varíola não seria a única doença sob seu
controle, simplesmente era a epidemia mais devastadora e perigosa que conheciam
os habitantes da comunidade original africana, onde surgiu Obaluàyé, o Daomé.
Assim, sombrio e grave como Irôko, Oxumarê (seus irmãos) e Nanã
(sua Mãe), Obaluàyé é uma criatura da cultura jêje, posteriormente assimilada
pelos yorubás. Enquanto os Orixás iorubanos são extrovertidos, de têmpera
passional, alegres, humanos e cheios de pequenas falhas que os identificam com
os seres humanos, as figuras daomeanas estão mais associadas a uma visão
religiosa em que distanciamento entre deuses e seres humanos é bem maior.
Quando há aproximação, há de se temer, pois alguma tragédia está para
acontecer, pois os Orixás do Daomé são austeros no comportamento mitológico,
graves e consequentes em suas ameaças.
A visão de Obaluàyé é a do castigo. Se um ser humano falta com ele
ou um filho-de-santo seu é ameaçado, o Orixá castiga com violência e
determinação, sendo difícil uma negociação ou um aplacar, mais prováveis nos
Orixás yorubás.
Pierre Verger, nesse sentido, sustenta que a cultura do Daomé é
muito mais antiga que a yorubá, o que pode ser sentido em seus mitos: A
antiguidade dos cultos de Obaluàyé e Nanã, frequentemente confundidos em certas
partes da África, é indicada por um detalhe do ritual dos sacrifícios de
animais que lhe são feitos. Este ritual é realizado sem o emprego de
instrumentos de ferro, indicando que essas duas divindades faziam parte de uma
civilização anterior à Idade do Ferro e à chegada de Ogum.
Atotô Ajuberô!