sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Kavungo - Da peste a cura


O culto feito a Kavungo, que se desdobra com o nome de Obaluàyé / Omolu. Orixá originário do Daomé, Obaluàyé ("Rei Dono da Terra") ou Omolu ("Filho do Senhor") É um Orixá sombrio, tido entre os iorubanos como severo e terrível, caso não seja devidamente cultuado, porém Pai bondoso e fraternal para aqueles que se tornam merecedores, através de gestos humildes, honestos e leais.
Obaluàyé, o Rei da Terra, é filho de Nanã, mas foi criado por Iemonjá que o acolheu quando a mãe rejeitou-o por ser manco feio e coberto de feridas. É uma divindade da terra dura, seca e quente. É às vezes chamado "o velho", com todo o prestígio e poder que a idade representa no Candomblé. Está ligado ao Sol, propicia colheitas e ambivalentemente detém a doença e a cura. Com seu Xaxará (feixe de ramos de palmeira enfeitado com búzios), ele expulsa a peste e o mal. Mas a doença pode ser também a marca dos eleitos, pelos quais Omolu quer ser servido. Quem teve varíola é frequentemente consagrado a Omolu, que é chamado "médico dos pobres".
Suas relações com os Orixás são marcadas pelas brigas com Xangô e Ogum e pelo abandono que os Orixás femininos legaram-lhe. Rejeitado primeiramente pela mãe, segue sendo abandonado por Oxum, por quem se apaixonou que, juntamente com Iansã, troca-o por Xangô. Finalmente Obá, com quem se casou, foi roubada por Xangô.
Omolu é considerado o Orixá da morte, aquele que leva os espíritos dos enfermos. É responsável pela transição do espírito, do plano material para o plano espiritual. Assim como é responsável pela vinda da morte, também é responsável pela ida, sendo assim atribuída a ele várias curas.
Obaluàyé é considerado um Orixá de amor, responsável pela recuperação dos espíritos que, no plano material, cometeram muitos erros, os espíritos decaídos, cuidando da transição desses espíritos para o plano espiritual. Ele também é capaz de tirar as enfermidades dos doentes. Também prepara para o renascimento, cuidado o útero da mulher para receber a nova vida.
Ambos os nomes surgem quando nos referimos a esta figura, seja Obaluàyé seja Omolu. Para a maior parte dos devotos do Candomblé e da Umbanda, os nomes são praticamente intercambiáveis, referentes a um mesmo arquétipo e, correspondentemente, uma mesma divindade. Já para alguns babalorixás, porém, há de se manter certa distância entre os dois termos, uma vez que representam tipos diferentes do mesmo Orixá.


São também comuns as variações gráficas Obaluaê e Abaluaê.
Tem o rosto e o corpo cobertos de palha da costa, em algumas lendas para esconder as marcas da varíola, em outras já curado não poderia ser olhado de frente por ser o próprio brilho do sol.
Em termos mais estritos, Obaluàyé é a forma jovem do Orixá Xapanã, enquanto Omolu é sua forma velha. Como, porém, Xapanã é um nome proibido tanto no Candomblé como na Umbanda, não devendo ser mencionado, pois pode atrair a doença inesperadamente.
Em algumas narrativas mais tradicionalistas tentam apontar-se que o conceito original da divindade se referia ao deus da varíola, tal visão, porém, é uma evidente limitação. A varíola não seria a única doença sob seu controle, simplesmente era a epidemia mais devastadora e perigosa que conheciam os habitantes da comunidade original africana, onde surgiu Obaluàyé, o Daomé.
Assim, sombrio e grave como Irôko, Oxumarê (seus irmãos) e Nanã (sua Mãe), Obaluàyé é uma criatura da cultura jêje, posteriormente assimilada pelos yorubás. Enquanto os Orixás iorubanos são extrovertidos, de têmpera passional, alegres, humanos e cheios de pequenas falhas que os identificam com os seres humanos, as figuras daomeanas estão mais associadas a uma visão religiosa em que distanciamento entre deuses e seres humanos é bem maior. Quando há aproximação, há de se temer, pois alguma tragédia está para acontecer, pois os Orixás do Daomé são austeros no comportamento mitológico, graves e consequentes em suas ameaças.
A visão de Obaluàyé é a do castigo. Se um ser humano falta com ele ou um filho-de-santo seu é ameaçado, o Orixá castiga com violência e determinação, sendo difícil uma negociação ou um aplacar, mais prováveis nos Orixás yorubás.
Pierre Verger, nesse sentido, sustenta que a cultura do Daomé é muito mais antiga que a yorubá, o que pode ser sentido em seus mitos: A antiguidade dos cultos de Obaluàyé e Nanã, frequentemente confundidos em certas partes da África, é indicada por um detalhe do ritual dos sacrifícios de animais que lhe são feitos. Este ritual é realizado sem o emprego de instrumentos de ferro, indicando que essas duas divindades faziam parte de uma civilização anterior à Idade do Ferro e à chegada de Ogum

Atotô Ajuberô!

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