segunda-feira, 12 de março de 2012

As Diferenças Entre As Nações

Como se sabe, muitas são as formas existentes de culto no Brasil que se utilizam da denominação Candomblé. Isto se dá pela grande variedade de etnias de negros, que reduzidos à condição de escravos, chegaram ao nosso país. Cada grupo/etnia que aqui aportou pertencia a locais distintos na África, tendo assim, costumes e culturas diferenciadas. Assim, portanto, chegaram daometanos, yorubás, congolenses, angolanos, malês e inúmeros outros grupos, que em terras brasileiras procuraram manter seus hábitos, sua cultura e também seus ritos religiosos. Daí surgiram às nações de candomblé, ou seja, a prática do candomblé conforme ritos específicos da origem do povo praticante, como a nação de Ketu, a nação Jêje, a nação Efón, Angola e Kongo (atualmente, estas duas últimas, consideram-se fundidas dada a grande semelhança das práticas religiosas e a proximidade das línguas utilizadas, que são respectivamente, o Kimbundo e o Kikongo). Portanto, cada nação de candomblé possui características próprias, que a diferencia das demais. Estas diferenças se encontram na língua utilizada, nas divindades cultuadas, em determinadas práticas de caráter sigiloso (fundamento), no modo de se enxergar determinadas questões, enfim, numa série de fatores distintivos.
Abaixo algumas diferenças entre as Nações Angola, Jêje e Ketu.
A primeira e primordial diferença entre as citadas nações de candomblé se encontra com relação às divindades, objeto do culto. Assim:
Mukixes para os Angolanos;
Inkices para os Congolenses;
Orixás para os Yorubás (Nação Ketu), e;
Voduns para os Daometanos (Nação Jêje).
Outra diferença encontrada, dentre muitas, é a variação do idioma/língua/dialeto utilizado em cada vertente, assim:
Kimbundo para os Angolanos;
Kikongo para os Congolenses;
Yorubá para os Yorubás, e;
Éwé-fon para os Daometanos.
Distinguem-se ainda pelo próprio ritmo dos atabaques, pelas denominações que cada nação dá a estes, ou mesmo pela maneira de tocá-los, assim teremos:
Kongo de Ouro, Barra Vento e Kabula para as tradições Bantu (Angola e Kongo), ritmos estes, obtidos através do toque com as mãos. Sendo denominados, os atabaques, simplesmente de engomas ou "ngomas".
Ijexá, Igbin, Aguerê, Bravum, Opanijé, Alujá, Adahun e Avamunha para as tradições Yorubás e Daometanas. As denominações dos atabaques para os últimos (Jêjes) são: rum, rumpi e lé (os atabaques nesta cultura diferem-se das demais até mesmo no formato, pois são acomodados em suportes na posição horizontal, diferentemente das demais tradições); Para os primeiros (Yorubás), os atabaques são chamados de ilubatás ou ilús, sendo tocados com a ajuda de varetas (aguidavi) e não diretamente com as mãos (exceto o Ijexá, que se utiliza também do toque com as mãos). Embora em muitas casas de diferentes nações e comum as corimbas serem chamados como na nação Jêje.

Candomblé de Angola
Religião afro-brasileira, de origem banto, que compreende as nações de Angola e Congo (Cassanges, Kikongos, Kimbundo, M´bundo e Kiocos), e se desenvolveu entre os escravos africanos que falavam a linguagem Kimbundo e Kikongo e são facilmente reconhecidos pela maneira diferente de cantar, dançar e percutir seus tambores.
Na hierarquia de Angola o cargo de maior importância é para homem Tata Nkisi (tata de inquinces) e para mulher Mametu Nkisi (Mametu de inquices), que correspondem ao Babalorixá e a Yalorixá dos Yorubás, e o Deus supremo é Zambi (Nzambi) ou Zambiapongo (Ndala Karitanga).
O Candomblé de Caboclo é uma modalidade desta nação, e cultua os antepassados. Há uma nação que faz parte do Batuque do Rio Grande do Sul que descende de Angola, que é a Cabinda.
Os rituais da nação Angola começam com o Massangá, que é o batismo na cabeça do iniciado, feito com água doce e Obí; Bori com sacrifício de animais para o uso do sangue (menga); ritual de raspagem, conhecido como feitura de santo; ritual de obrigação de 1 ano; ritual de obrigação de 3 anos, onde muda o grau de iniciação; ritual de obrigação de 5 anos, com o uso de frutas, obrigação de 7 anos, quando o iniciado recebe seu cargo, é elevado ao grau de Tata Nkisi (zelador) ou Mametu Nkisi (zeladora). Após 7 anos de obrigações, será renovado a cada ano com o rito de Obí ou Bori, conforme o caso, e de 7 em 7 anos se repete as obrigações para conservar o individuo forte, se transformando em “Kukala Ni Nguzu”, que quer dizer um ser forte.
Em frente a toda casa de Candomblé Angola existe um mastro com uma bandeira branca que representa a nação.
Mukuiú N´zambi
Candomblé Djedje
Dahomé, o berço da nação Éwé e Fon, denominados Djedjes, no Brasil, enumeram-se em diversas tribos como os Agonis, Axântis, Gans-Crus, Popós etc. Os primeiros povos djedjes tiveram como destino São Luís do Maranhão, onde ainda se mantém vivas as tradições religiosas trazidas da terra mãe, África. Também se encontra o ritual djedje em Salvador, Cachoeira de São Félix, Pernambuco entre outros estados do Brasil como Rio Grande do Sul e São Paulo, que também importou os rituais desta nação.
O negro descendente do Dahomé, hoje Benin, trouxe consigo o culto à suas divindades chamadas Voduns, cujo Deus Supremo é Mawu, a quem são subordinados, assim como Olódúmarè o Deus Supremo dos Orixás Yorubás. Diz a Mitologia Fon que Mawu tinha um companheiro chamado Lissá. Mawu era a Lua, que teve força ao longo da noite e viveu no oeste. Lissá era o Sol, que fez sua morada no Leste. Quando existia um eclipse dizia-se que Mawu e Lisa estavam fazendo amor. Eles eram pais de todos os outros Deuses. E existem catorze destes deuses, que eram sete pares de gémeos. Este relato é um mito do primeiro povo do Dahomé, os Fons.
O culto aos Voduns teve ênfase na Bahia, conhecido como Candomblé Djedje, e no Maranhão Tambor de Mina.
Algumas casas de djedje tiveram influencias dos yorubás e vice-versa, formando o que se chama de cultura Djedje-Nagô. A exemplo do candomblé, as instalações dos terreiros contam com um barracão central para as danças, pequenas casas reservadas para as diferentes famílias de divindades, onde são mantidos os assentamentos, há uma cozinha, quartos para dormir e se vestir e quarto onde os iniciados ficam recolhidos durante as obrigações. Há também a casa de Legba, onde são feitas grandes obrigações.
A iniciação djedje requer um longo período de confinamento, que pode durar de seis meses a um ano de reclusão, onde um Vodunsi aprende as tradições religiosas djedje como: danças, cantigas, preparo das comidas sagradas, cuidar de árvores e espaços sagrados, votos de segredo e obediência. As entidades são assentadas, recebem sacrifícios de animais, comidas, bebidas e outros presentes. Os assentamentos são preparados em pedras, que representam um “imã” que tem a força do Vodun, e ficam guardadas no quarto de segredo recobertos com jarras, louças e ferramentas. Existem, também, assentamentos em outras partes da casa e do quintal marcados por árvores como a cajazeira, ginja e pinhão branco. É comum ter assentamentos no centro do barracão de danças; assim como em outras nações, no culto djedje também são feitos rituais de limpezas, banhos com ervas e muitas preces.
Mawu é o ser supremo dos povos Éwé e Fon, criador do mundo, dos seres vivos e das divindades. Mawu (feminino) e Lissá (masculino) formam a divindade dupla Mawu-Lissá cujos Voduns são filhos e descendentes de ambos. Os principais Voduns são: Loko; Gu; Heviossô; Sakpatá; Dan; Agbê; Águé; Ayizan; Agassu; Legba e Fa.
            Kolofé Olorun
Candomblé de Ketu/Nagô
Ketu é o nome de um antigo reino da África, na região agora ocupada pela República Popular do Benin e pela Nigéria. Seu rei tem o nome de Alaketu, de onde vem o sobrenome da conhecida Yalorixá Olga de Alaketu. Também indica o nome do povo dessa região, que veio como escravo para o Brasil. Em termos de identidade cultural, forma uma subdivisão da cultura iorubana. Em geral, membros de origem ketu são responsáveis por boa parte dos terreiros mais tradicionais da Bahia.
A diferença entre as outras nações está no idioma utilizado, no caso o Yorubá, no toque dos seus atabaques, nas cores e símbolos dos Orixás, e nas cantigas; Os fundamentos são passados oralmente por sacerdotes de Orixás que são chamados de Babalorixá (masculino) Yalorixá (feminino).
Outra grande diferença é em relação ao culto dos Eguns; existe um sacerdote preparado para este ritual especifico chamado Ojé ou Baba Ojé, que faz o uso de um Ixã (bastão) para dominar os Eguns; conforme informações de um antigo sacerdote de Ketu, chamado Balbino de Xangô, quem lida com Orixás não lida com Eguns; Já no Rio Grande do Sul, é o próprio Sacerdote de orixá quem faz os rituais de Eguns.
Os cargos principais na nação Ketu/Nagô são:
- Babalorixá ou Yalorixá: autoridades máximas no Candomblé
- Iyakekerê: mãe pequena
- Babakekerê: pai pequeno
- Yalaxé: mulher que cuida dos objetos ritual.
- Babalaxé: homem que cuida dos objetos ritual.
- Ajibonã ou jíbonan: mãe/pai criadeira (o) supervisiona e ajuda na iniciação.
- Egbomi: pessoa que já cumpriu sete anos de obrigação.
- Iyabassê: mulher responsável pela preparação das comidas de santo.
- Yawo: filha (o) de santo (que já incorpora Orixá).
- Abiã: novato.
- Axogun: responsável pelo sacrifício de animais.
- Alagbê: responsável pelos atabaques e pelos toques.
- Ogan: tocadores de atabaques.
- Ajoiê ou Ekedi: camareira de Orixá.
Os Orixás cultuados na nação Ketu são: Exu, Ogun, Oxóssi, Logun Edé, Xangô, Obaluàyé, Oxumarê, Ossãe, Oyá, Oxun, Yemanjá, Nanã, Ewá, Oba, Oxalá, Ibeji, Irôko, Orunmilá.
Na nação Ketu, existente principalmente na Bahia, predominam os Orixás de origem Yorubá, e os terreiros mais conhecidos são: a Casa Branca do Engenho Velho, o Ilê Axé Opô Afonjá, o Gantois.
O Candomblé de origem ketu já se espalhou por todos os grandes centros urbanos do Brasil e também para o exterior, e nota-se um movimento de recuperação de raízes africanas, que rejeita o sincretismo católico, procurando reaprender o yorubá como língua original e tenta reproduzir os rituais que estavam perdidos ao longo do tempo, há casos em que muitos sacerdotes procuram viajar até África para descobrir mais sobre a cultura dos Orixás.
Motumbá Asé 

quinta-feira, 1 de março de 2012

Orunmilá-Ifá - O conhecedor do destino


A importância de Orunmilá é tão grande que chegamos a concluir que se um homem fizer algum tipo de pedido ao todo poderoso Olorun (Deus, o Senhor dos Céus), esse pedido só poderá chegar até ele através de Orunmilá e Exú, que são somente eles dois dentre todos os Orixá os que têm a permissão, o poder e o livre acesso concedido pôr Olorun de estar junto a Ele, quando assim for necessário.
Ainda vale ressaltar que somente Orunmilá e Exú possuem para si um culto individual, onde são feitos adorações totalmente específicas para os mesmos. Isso só é possível pôr causa dos poderes delegados pelo todo poderoso a eles, pois os demais Orixás são totalmente dependentes de Ifá e Exú, enquanto que eles não dependem de nenhum dos Orixás para desenvolverem sua própria evolução, ou seja, o culto à Ifá e Exú não dependem do culto aos Orixás, entretanto os cultos aos Orixás dependem totalmente de Ifá e Exú.
Orunmilá é o senhor dos destinos, é aquele que tudo sabe e tudo vê em todos os mundos que estão sob a tutela de Olorun, ele sabe tudo sobre o passado, o presente e o futuro de todos habitantes da Terra e do Céu, é o regente responsável e detentor dos oráculos, foi quem acompanhou Odùduwà na criação e fundação de Ilê Ìfé, é normalmente chamado em suas preces de:
Elérí Ìpín - "o testemunho de Deus''
Ibìkéjì Olódúmarè - "o vice de Deus"
Gbàiyégbòrún - "aquele que está no céu e na terra"
Òpitan Ìfé - "o historiador de Ìfé"
Acredita-se que Olorun passou e confiou de maneira especial toda a sabedoria e conhecimento possível, imaginável e existente entre todos os mundos habitados e não habitados à Orunmilá, fazendo com que desta forma o tornasse seu representante em qualquer lugar que estivesse.


Na Terra Olorun fez com que Orunmilá participasse da criação da terra e do homem, fez com que ele auxiliasse o homem a resolver seus problemas do dia a dia, também fez com que ajudasse o homem a encontrar o caminho e o destino ideal de seu orì. No Céu lhe ensinou todos os conhecimentos básicos e complementares referente todos os Orixá, pois criou um elo de dependência de todos perante Orunmilá, todos devem consultá-lo para resolver diversos problemas, com pôr exemplo, a vinda de Oxalá à terra para efetuar a criação de tudo aquilo que teria vida na mesma, porém o grande Orixá não seguiu as orientações prescritas pôr Ifá, e não conseguiu cumprir com sua obrigação caindo nas travessuras aplicadas pôr Exú, ficando esta missão pôr conta de Odùduwà.
Também Orunmilá fala e representa de maneira completa e geral todos os Orixás, auxiliando pôr exemplo, um consulente no que ele deve fazer para agradar ou satisfazer um determinado Orixá, obtendo desta forma um resultado satisfatório para o Orixá e para o consulente.
Orunmilá sabe e conhece o destino de todos os homens e de tudo o que têm vida em nosso mundo, pois ele está presente no ato da criação do homem e sua vinda a terra, e é neste exato instante que Ifá determina os destinos e os caminhos a serem cumpridos pôr aquele determinado espírito.
É pôr isso que Orunmilá tem as respostas para toda e qualquer pergunta lhe é feita, e que ele têm a solução para todo e qualquer problema que lhe é apresentado, e é pôr esta razão que ele têm o remédio para todas as doenças que lhe forem apresentadas, pôr mais impossível que pareça ser a sua cura.
Todos nós deveríamos consultar Ifá antes de tomarmos qualquer atitude e decisão em nossas vidas, com certeza iríamos errar menos, os Iorubás consultam Ifá antes de tomarem qualquer decisão, com pôr exemplo, antes de um casamento, antes de um noivado, antes do nascimento e até mesmo na hora de dar o nome a criança, antes da conclusão de um negócio, antes de uma viagem, etc.
Além disto, tudo, Orunmilá é também quem tem a vida e a morte em suas mãos, pois ele é a energia que esta mais atuante e mais próxima de Olorun, podendo ele ser a única entidade que tem poderes para suplicar, pedir ou implorar a mudança do destino de uma pessoa.
Cada indivíduo nasce ligado a um Odú, que dá a conhecer sua identidade profunda, servindo-lhe de guia por toda vida, revelando-lhe o Orixá particular, ao qual deverá ser eventualmente dedicado.

            Exeu, Epá Oju Olorun!